29 de jan. de 2011

Nise da Silveira

     Hoje não fazia a mínima ideia sobre o que escrever no blog, e quando não tenho ideias costumo falar com a Melissa e acabamos achando alguma coisa legal para falar, mas como Mel nos deixou temporariamente para viajar pelos EUA, tive que recorrer aos meios antigos e pegar o livro que ganhei de minha tia / madrinha no Natal de 2009 que fala sobre várias coisas diferentes e depois de folhear páginas e páginas cheguei aonde falava de Nise da Silveira, a mulher que se formou psiquiatra no tempo em que ser médico era coisa de homem, achei uma história de vida muito legal e decidi escrever aqui.

     Nise Magalhães da Silveira nasceu em Maceió no dia 15 de feveiro de 1905. Numa época em que a função das mulheres era casar e ter filhos, a escolha de ter uma profissão "de homem" causou espanto. Contrariar as regras virou uma marca na carreira dessa alogoana que deixou Maceió para estudar em Salvador.
     Conhecida nos meios acadêmicos como Nise da Silveira, com 15 anos ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, formando-se em 1926 com a tese Ensaio sobre a criminalidade das mulheres da Bahia. Em 1927 foi para o Rio de Janeiro, onde frequentou a clínica de neurologia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, recebendo grande influência de Antônio Austregésilo.
     Apesar de corajosa e decidida, Nise não podia ver sangue e, por isso, trocou a medicina clínica pela psiquiatria. Em 1933 foi aprovada em concurso para médica psiquiatra da antiga Assistência a Psicopatas e Profilaxia. Participou, em 1935, da União Feminina do Brasil, entidade de defesa dos direitos das mulheres vinculada à Aliança Nacional Libertadora. No ano seguinte foi presa como comunista e afastada do serviço público até 1944, essa passagem de sua vida está retratada no famoso livro de Graciliano Ramos, Memórias do Cácere.
     Quando foi solta, em 1944, foi tratar de doentes mentais no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro. Logo no início, não gostou do que viu, o método então utilizado para "acalmar" os esquizofrênicos era o choque elétrico. Nos casos graves, usava-se uma técnica ainda mais cruel que era a lobotomia, uma cirurgia que mutilava o cérebro e transformava os doentes em seres idiotizados, incapazes de raciocinar e de se comunicar. Ela sempre se recusou a utilizar esses tratamentos por sua semelhança com torturas que viu na prissão.
     Nise acreditava que através do afeto e da arte era possível curar ou, ao menos, trazer alguma melhora àquelas pessoas. Em vez de deixá-las abandonadas à própria sorte em pátios que mais pareciam presídios, criou oficinas de pintura, desenho e modelagem e deu a eles tinta, lápis de cera e argila para trabalharem. Os resultados apareceram muito depressa. Ao contrário do que pensava a medicina da época, Nise descobriu que o mundo interior dos doentes mentais era ríquissimo e que, através da arte, podiam expressar suas emoções e criatividade, colocando no papel, ou transformando em esculturas, as imagens que traziam em suas mentes.
     Como a produção crescia cada vez mais, Nise teve a ideia de criar, em 1952, o Museu do Inconsciente, no Rio de Janeiro, que logo se transformou num centro de estudos psquiátricos. Embora as obras tivessem como objetivo a pesquisa científica, passaram a ficar expostas à visitação pública. Eram de tão alta qualidade que chegaram a ser elogiadas por grandes críticos de arte.
     Nova polêmica surgiu quando ela resolveu utilizar animais para estimular a afetividade dos doentes e acelerar o processo de cura. Tudo começou quando um dos frequentadores da oficina de arte adotou uma cadela vira-lata. Nise observou como, a partir daí, ele se tornou mais sociável e foi dando visíveis sinais de melhora. Concluiu que essa podia ser uma boa maneira de os internos restabelecerem a relação de afeto perdida com outro ser vivo. Até aquela época, a sociedade segregava os doentes mentais em asilos e a maioria deles havia sido abandonada pela família e amigos, tudo que precisavam era um amigo no qual pudessem confiar e cães e gatos se prestavam muito bem a isso. Eles davam ao esquizofrênico o carinho que os humanos lhe negavam.
     Nise pensou em tudo. Dedicou toda a sua vida à busca de uma nova maneira de tratar os doentes mentais. Costumava dizer que seu interesse pela alma humana surgiu na convivência com os presos comuns enquanto esteve presa. Ali conheceu as grandes misérias humanas. Foi por isso que, mais tarde, lutou tanto para que os esquizofrênicos não se transformassem em prisioneiros dos asilos.
     Quando morreu, em 1999, deixou o legado de suas ideias avançadas e um trabalho mundialmente reconhecido e imitado.

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